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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

1 - Lê os quatro excertos da obra Mataram o rei!:

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Excerto A
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Deliciado por se ter tornado o centro das atenções, Flamiano pôs-se a falar de projectos pessoais:
- Ando com imensa vontade de comprar um automóvel mas o meu pai é contra. Diz que são modernices perigosas. Para ele não há meio de transporte que se compare ao cavalo.
- Isso é porque nunca experimentou – disse o dono da casa – eu fui buscar o meu a Paris e desde então não quero outra coisa. Este modelo pode atingir trinta quilómetros à hora se a estrada for boa. Daqui a uns anos há-de haver mais automóveis do que carruagens!
- Também não exageres – atalhou a mulher. – Lembra-te de que são caríssimos e na maior parte dos sítios não há estradas. O automóvel é um brinquedo da cidade.
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Excerto B
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A perspectiva de ter de tirar as luvas ao motorista e forçá-lo a pegar numa coisa de vidro ou de metal desencadeou um turbilhão de loucura na cabeça do João. Durante vários dias mal dormiu, a congeminar planos superastuciosos mas completamente impossíveis de concretizar. Para seu desespero, a Ana limitava-se a ouvi-lo distraidamente e a dizer:
- Isso não dá.
Não apresentava alternativas porque a cabeça dela também andava à roda só que o motivo era outro: o baile. Como a data se aproximava desinteressou-se de tudo o resto.
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Excerto C
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Um sacão violento fez estacar a carruagem, que quase bateu na parede da casa mais próxima. Acordaram todos num repente para verificarem espavoridos que tinham atropelado um miúdo.
Orlando foi o primeiro a saltar para o chão e eles imitaram-no com a alma num susto porque o rapazinho jazia sem sentidos entre as patas dos cavalos.
De um momento para o outro juntou-se uma verdadeira chusma de gente que não percebiam de onde surgira. Vendedores ambulantes, peixeiras, padeiros, ardinas e vagabundos esfarrapados formaram de imediato um círculo pronto a agoirar as piores desgraças.
- Está morto! – berrava uma velha envolta em xailes imundos cujo hálito fedia a aguardente. – Já deu a alma ao Criador. E tão novo, coitadinho!
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Excerto D
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Um trote apressado desviou-lhe a atenção para a estrada. Vinham lá dois polícias a cavalo. O desconhecido sobressaltou-se e, após breves segundos de hesitação, entregou-lhe o embrulho e pediu:
- Esconda isto. Depressa! Vá para as traseiras e espere lá por mim.
Foi tudo tão rápido e inesperado que o João nem raciocinou. Pedou no pacote, escapuliu-se para trás da casa e procurou esconderijo entre a parede e uma pilha de caixotes.
O coração disparara a galope. Quem seria aquele homem? Por que motivo receava a presença da polícia? E o que estaria dentro do pacote? Apalpou os jornais estranhando a consistência.
«À primeira vista parece só papel.»
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